Conheci a massagem tântrica
28 de novembro de 2025
Fiquei casada durante mais de 20 anos com a minha mãe. Sentia que mais da metade do meu corpo era dela. Sim, eu sei que é forte isso que estou escrevendo, mas é como eu me sentia. Minha mãe me envolvia em um jogo psicológico desde criança falando sobre o meu corpo, apontando dedos, me diminuindo e me menosprezando, tudo porque eu tinha um corpo do jeito que eu tinha. Quando eu publicar meu livro, vocês terão acesso ao que ela fazia comigo e com o meu corpo. Acontece que eu cresci cheia de marcas e durante muito tempo eu machuquei o meu corpo, pois tinha raiva dele. Achava, quase consciente, que o meu corpo era o culpado por tudo. Eu me feria. Depois passei por um processo de cura, que culminou em tocar de novo o meu corpo, mas pela via do prazer. Foi aí que eu tive o grande insight louco de virar garota de programa, para viver a minha sexualidade. A primeira vez que gozei com alguém foi com o meu primeiro cliente. Depois disso gozei muitas outras vezes, mas percebi que faltava algo; eu precisava também descobrir a minha sexualidade fora dos quartos de motéis. Existiam coisas que eu precisava explorar longe dos meus clientes, sozinha, mas um pouco acompanhada.
Foi aí que pensei: e se eu fizer massagem tântrica? Tenho uma questão muito forte com os dedos, tenho medo de ser tocada na vagina pelas minhas experiências traumáticas, então pensei que eu poderia ressignificar o toque com uma profissional. Orcei o valor com uma, mas não me senti segura com ela. Até que um dia estava no Instagram e vi um vídeo de uma moça dizendo “quer saber como está a sua vida? Olha para a sua sexualidade” e aquilo me tocou porque cada vez que tenho avançado na minha vida, também tenho avançado na minha sexualidade. Vi que ela fazia massagem tântrica, falei com ela, mas pensei “será?” e percebi que esse “será?” escondia um medo. Até que tomei a decisão de fazer a massagem com ela. Primeiro fizemos uma conversa on-line, em que ela me conheceu, entendeu as minhas dificuldades e explicou como seria a massagem. Algumas semanas depois, eu marquei a massagem de fato. Fiquei postergando, dizendo “depois eu cuido disso”, eu não queria cuidar, aliás, eu não queria ter nenhuma questão com a minha vagina. Não queria ter que aprender tudo sobre o meu corpo só com 25 anos (sei que sou nova, mas para quem passou a vida toda se negando, a sensação é que foi tarde). Queria que as coisas fossem mais fáceis, mas essa nunca foi a minha realidade. E eu precisava encarar a minha realidade, eu precisava superar essa barreira de dor. Então eu definitivamente marquei a massagem.
Confesso que dias antes, eu estava superdeprimida. Fim de ano me deixa mais introspectiva, não tenho clima natalino e lembro que as maiores brigas na minha família ocorreram no fim de ano. Inclusive, a última vez que falei com a minha mãe foi no fim de ano. O corpo lembra e guarda memórias, então eu estava triste. No mesmo dia, fiz um atendimento mais cedo e achei isso simbólico, porque é a sequência de como tenho explorado a minha sexualidade; primeiro com os clientes e depois sozinha.
Eu estava com muita vontade de chorar quando cheguei, mas era um choro que ficava entalado, não saía. Quando cheguei, fui recebida pela terapeuta, que eu já consegui sentir a energia leve e bonita. Acho que uma pessoa que se explora e se entende tanto acaba ficando diferente. Era o que eu sentia com essa terapeuta, ela se destacava, ela era diferente. Eram 2 horas de sessão. Fomos para o quarto, onde aconteceria a massagem, ela pegou água para mim e pediu para eu sentar. Perguntou quais eram as minhas expectativas e o que eu estava sentindo, e eu disse que estava um pouco ansiosa. Ela me explicou como seria e como eu poderia fazer com o meu corpo para me sentir mais relaxada, que eu poderia mexer minha pélvis e liberar o som pela garganta, focando em respirar para me relaxar. A princípio, achei tudo aquilo muito louco. Ela gemeu na minha frente mostrando como eu poderia fazer. Ela era livre e não tinha vergonha, já eu, estava até com vergonha de ficar pelada na frente dela. Eu imaginava que seria muito difícil. Eu estava tensa. Então eu tirei a minha roupa, me enrolei na toalha e deitei na cama. A cama tinha aquecedor, adorei isso. Ela colocou uma música meditativa e apagou a luz. Em seguida, ela começou a fazer movimentos mais fortes no meu corpo e depois movimentos sutis. Eu gostava de sentir o toque e era gostoso, principalmente quando ela vinha nas minhas costas, que considero que essa é uma zona erógena para mim. Ela me perguntava como estava sendo o toque e em qual região eu estava gostando mais. Achava aquilo bonito. Lembro que ela dizia várias vezes que aquele era o meu momento e eu poderia relaxar. Eu estava lá só para sentir prazer e nada mais. Eu deveria confiar. Mas eu tenho dificuldade de relaxar e ainda assim fiquei um pouco em alerta. Engraçado que alguns toques eu dava risada. Lembrei na hora de alguma coisa que minha mãe falava comigo quando eu era adolescente, não lembro o quê, mas era algo me diminuindo. Minha mãe me persegue como um fantasma, principalmente quando tenho prazer. Quando comecei a ser acompanhante, às vezes achava que ela iria entrar pela porta. Enfim. Então eu senti que a terapeuta me tocava com as pontas dos dedos de um jeito que ninguém me tocou. Depois ela me pediu para eu ficar de lado e continuou tocando o meu corpo. Ela perguntava se era bom o toque, se tinha alguma região do meu corpo que estava tensa, e sim, tinha, meus ombros estavam tensos. Ela me pediu para virar de frente e tocou nos meus ombros. Ela tocou no meu corpo inteiro sem tocar na minha vulva, a vulva seria por último, mas eu ficava tensa sempre que ela passava a mão perto da minha virilha.
Então ela iniciou na minha vulva. Eu estava com uma venda no olho e preferia não olhar. Ela trabalhou bastante a respiração comigo nessa hora e o som, fazendo com que eu liberasse o gemido. Eu ainda estava morrendo de vergonha dela e fazia gemidos contidos. Ela começou tocando nos meus lábios vaginais e eu percebi que não tenho prazer neles, só um leve relaxamento. Depois tocou nos meus lábios internos e depois um pouco próximo do clitóris, onde eu senti um pouco de dor e comuniquei isso para ela. Em um dado momento, eu senti muito frio no meu corpo e mesmo com aquecedor na minha frente e o colchão quente, eu sentia frio. O curioso era que quando ela parava de me tocar, o frio passava. O meu corpo estava me protegendo de sentir, ela me explicou. Depois o frio foi passando. Ela usava bastante óleo de coco para tocar na minha vulva, o dedo dela deslizava e estava sendo bom. Quando ela tocava mais no meio, eu tinha prazer. Ela tocou por último no meu clitóris e eu comecei a sentir mais prazer. Até que ela pegou um vibrador, um bullet e colocou no meu clitóris. E foi aí que eu gozei muito rápido. Pedi para ela parar porque eu já tinha gozado.
– Nossa, acho que gozei.
– O que você entende por gozar?
– Quando o meu corpo atinge o prazer máximo.
– Na verdade, você pode ter gozado, mas também ejaculou.
– Sério?
– Sim, olha o líquido aqui.
Eu tinha ejaculado, meus amores, pela primeira vez na vida! Aí vocês me perguntam se eu senti diferença, e o que eu digo é que foi muito mais rápido do que o gozo comum. Como ela já estava estimulando a minha vulva inteira, foi muito rápido para eu ejacular, mas eu não percebi em nenhum momento que eu fiz isso e acho que isso nunca tinha acontecido, senão algum cliente ia me dizer.
Acontece que eu tinha acabado de ejacular com uma profissional, que não era como eu. Eu também sou profissional do sexo, mas disponho do corpo todo para o cara sentir prazer, ela não, ela usava só as mãos. Era estranho. Pela primeira vez eu tive prazer com uma mulher, mas não dei prazer a ela. Ela estava ali, pronta para eu sentir prazer e eu só deveria receber. Já fiz muita mulher gozar na vida, mas nunca uma me fez gozar. E de repente, em um quarta-feira, eu ejaculei com uma mulher. Ah, fiquei morrendo de vergonha! Enquanto eu estava gozando, ela me fez gemer e soltar o que estava preso. Eu saí com uma sensação como se eu tivesse chorado muito, e realmente chorei, só que por baixo. Foi uma sensação muito diferente, um prazer que eu nunca tinha sentido na vida. Lembrei que na hora pedi para ela parar quando eu gozei porque minha vulva fica muito sensível e ela me explicou que seria bom eu sustentar o toque, para avançar, não achar que gozar é o fim. Outra coisa que ela fez foi ficar conversando comigo durante a massagem. Ela disse que não costuma fazer isso, mas sentiu que eu precisava.
Bom, no outro dia eu estava triste. Uma sensação estranha, como se eu tivesse tomando o controle da minha vida. Meu corpo não é mais da minha mãe. Meu corpo é meu. E um luto me atravessou, como se eu tivesse enterrando todos os anos em que a minha mãe morou no meu corpo. Agora é para nunca mais, mãe. Meu corpo é meu. E eu comecei a me sentir um indivíduo.
Sei que é forte eu escrever que o meu corpo era da minha mãe e agora sinto que ele finalmente é meu, mas foi exatamente isso que eu vivi. Eu me sentia uma escrava, do meu prazer, da minha vagina, da minha mente, do meu corpo. Se a minha vida fosse uma série, e às vezes acho que ela é, o nome dessa temporada se chamaria “Liberdade”, pois tenho me sentido livre como nunca fui na vida.
Quando eu sentir que devo, vou repetir a massagem. E recomendo para todas as mulheres pelo menos uma vez na vida. Se conhecer é impressionante. Se libertar? Ainda mais.










