Meu primeiro programa
01 de maio de 2025
Fazia três dias que eu esperava algum homem me confirmar o encontro - e nada. Era quase véspera de Natal quando eu tentava virar uma acompanhante. Uma boa data para começar, né? Só que não! Enquanto a maioria dos homens estavam pensando em viagens, férias, momentos com a família, presentes, e porque não, compras, contas e gastos... eu? Eu estava tentando virar uma acompanhante. Uma data bem simbólica. Enquanto os programas não aconteciam, fiquei frustrada pensando que deveria ter começado só em janeiro. Mas aí me lembrei do que muitas acompanhantes que eu seguia nas redes diziam sobre janeiro: que era o pior mês para a prostituição. Então me contentei por ter começado na pior época possível nesse trabalho. Mas não me contentei tanto assim...
Lembro que no primeiro dia que me anunciei no site, passei o tempo inteiro nervosa e ansiosa. Nesse dia, eu tinha um encontro com um grupo de amigos, em que nenhum deles sabia do meu desejo de virar garota de programa. São amigos relativamente novos na minha vida, então não senti a confiança necessária para dizer. Também porque eu sabia que se eu dissesse isso, ali na mesa, viraria o assunto do dia, ou talvez rolaria olhares de julgamento e também de preocupação com a minha segurança, o que é bem normal, mas não queria enfrentar nada disso naquele momento. Naquele dia, eu só queria virar uma acompanhante logo, e me portava como uma.
Enquanto eu estava no almoço, ouvindo meus amigos e também tentando razoavelmente participar da conversa, a minha cabeça divagava. O meu corpo não estava ali. Naquele momento, eu estava sendo dividida em dois: a mulher que eles conheciam e a mulher que eu viria a ser. E tudo na surdina, sem ninguém saber. Era um segredo e tanto! Eu segurava a minha ansiedade, enquanto checava várias vezes meu telefone. Cheguei a responder alguns caras interessados, mas, até então, sem nenhum encontro marcado de fato. Eu estava frustrada. Então no caminho acabei contando para um desses amigos toda a verdade. Ele é o amigo em que eu mais confio no grupo, foi esse amigo que fomos para o bloquinho (depois confiram no texto "O dia em que eu fiz um job no bar") e ele super me ouviu, sem julgar e me desejou boa sorte. Voltei para a casa. Não seria aquele dia que eu viraria uma garota de programa.
Mas foi no dia 20 de dezembro de 2024 que me tornei uma.
Dois dias antes, eu tinha feito o meu primeiro ensaio sensual. Enquanto eu tirava as fotos, aparecia a confirmação que eu não tive no almoço com meus amigos. Não era a confirmação do programa, ainda, mas era a confirmação de que eu estava pronta para tomar essa decisão. Eu estava pronta para virar uma acompanhante. Eu repetia isso para mim no ensaio: estou pronta, estou pronta, estou pronta. E, sim, eu estava. Não era mais uma ansiedade e, sim, uma certeza: eu estava pronta.
Um dia se passou entre o ensaio e o meu primeiro programa. Nesse dia, eu nem sabia que seria o intervalo de algo que transformaria a minha vida por completo. Então eu acordei no dia 20 de dezembro de 2024 e pouco tempo depois recebi uma mensagem, de um homem que parecia muito mais interessado que os outros. Ele aceitou todas minhas regras e ao meio-dia enviou o pix do agendamento. Meu Deus! Eu iria atender.
Eu estava tão feliz que ia atender que nem me importei com algumas particularidades: ele queria que eu fosse até o escritório dele... na Zona Leste! E eu moro na Zona Oeste, mas nasci na Zona Leste (simbólico, né?). Eu estava tão feliz que fui, nem me importei com a distância. Hoje, eu já não atenderia mais em um escritório, principalmente sendo tão longe, mas como tudo na minha vida é muito simbólico, eu fui. Sabia que aquela experiência nunca mais aconteceria e que seria a primeira vez, então eu fui. Ah, meus amores, eu estava tão animada! Finalmente, eu iria trabalhar! Um frio na barriga imenso, uma ansiedade, uma sensação de meu-deus-o-que-eu-estou-fazendo-com-a-minha-vida e, ao mesmo tempo, aquela sensação me movia. Eu queria fazer aquilo da minha vida. No dia 20 de dezembro de 2024, era tudo o que eu queria fazer.
Então, com aquela alegria toda, o céu estava ao contrário de mim: de repente começou a ficar escuro, com a previsão de uma grande chuva. Procurei no aplicativo do Uber quanto tempo daria para chegar até o local e o Google estava me dando duas horas! Não quis acreditar nisso porque já eram mais de 13h e o encontro estava marcado para às 16h. Fui correndo para tomar banho e me arrumar. Meu primeiro programa tinha que dar certo. Ah, tinha que dar, sim!
Mesmo com a minha correria, quando eu fui chamar o Uber, nenhum, nenhum mesmo aceitava! Quase meia hora depois, um motorista aceitou, entrei no carro e realmente foi aquele trajeto de duas horas até o destino. Deu para pensar em bastante coisa, principalmente em grande parte da minha vida. Foquei nas sensações que eu estava sentindo e em como a vida tinha me levado até ali. Há pouco tempo atrás, nunca passaria na minha cabeça ser uma garota de programa. E, naquele dia, era tudo que eu queria fazer. Como seria? Como eu ficaria depois? Será que eu ia gostar? Todas essas perguntas passavam na minha cabeça enquanto o trânsito de São Paulo não colaborava. O Uber, por sua vez, também me fazia perguntas, sobre o caminho, sobre o meu trabalho. Acho que ele desconfiou que eu era acompanhante. Quem vai toda arrumada de tarde trabalhar em um lugar que nem sabe direito como é? hahaha. Mas eu não quis me explicar em nenhum momento para ele, apenas avisei ao cliente que ia me atrasar. Então ele esperou pacientemente o meu atraso de uma hora e dez (fofo, né?). E FINALMENTEEEEEE… eu cheguei.
Toquei a campainha, ele desceu, me cumprimentou e eu entrei. Subimos algumas escadas e me surpreendi: onde eu olhava, havia coletes à prova de balas e achei aquilo muito curioso, ao mesmo tempo que me deu um pouco de medinho, confesso. Depois que esse dia passou, fiquei pensando que esses coletes também foram simbólicos para me dizer que eu precisava ter força nessa decisão que eu estava tomando. Eu tinha que me blindar. E realmente o cliente me contou que era engenheiro balístico, ele construía… coletes! O que eu também deveria construir, né?
Fiquei muito curiosa com aquilo, e ele ficou tentado a me mostrar. Me levou até o fundo do escritório e por cada parte que eu andava havia um colete. Houve um momento que perguntei se ele tinha arma também. Ele respondeu um pouco vergonhoso que sim. Meu Deus! Que perigo, né? Ah, mas esse homem era um amorzinho! Pedi licença para ir ao banheiro. Nesse dia, eu estava menstruada e comuniquei a ele, que me respondeu que tudo bem. Sentamos um de frente para o outro e ele me fazia perguntas sobre mim. Até que contei a verdade para ele, que aquele era o meu primeiro programa. Ele ficou bem surpreendido.
Pouco tempo depois, ele se levantou, tirou a camisa e a calça e eu tirei minha roupa, fiquei só de lingerie. Nos beijamos e quando eu achei que ia rolar sexo, ele voltou a sentar e fez mais perguntas sobre mim. Fiquei sem entender. Achei que ia transar. Onde? Não sabia, porque não havia nem um sofá no escritório, apenas uma mesa enorme. Mesmo assim, achei que ia rolar ali mesmo. Mas não rolou. Sabe o que ele disse?
- Vou ser sincero com você. Quando eu te contratei, eu queria sair com uma garota de programa, fazer sexo e tals, mas chegou você e eu gostei muito. Quero falar com você.
- Sério?
- Sim, você é muito inteligente e interessante. Agora eu quero conversar com você.
Sim, meus amores, agora ele queria conversar comigo, e eu queria muito transar. Era como se eu tivesse perdendo minha virgindade de novo, sabe? Mas não seria aquele dia que eu iria perder. Também achei que ele foi muito gentil comigo. Como ele seria meu primeiro, talvez quis dar uma experiência boa para mim, leve e divertida, sem o peso do sexo. Mas mal sabia ele que eu queria muito transar hahaha. Conversamos ali, até que deu o horário do fim do encontro e ele precisava ir, pois tinha compromisso.
Antes de nos despedirmos, ele prometeu diversas vezes que me chamaria de novo, para de fato fazermos sexo em um lugar mais confortável. Ele nunca me chamou. Isso tem quatro meses e às vezes fico pensando se ele ainda acha que sou acompanhante. Mal sabe ele que agora eu tenho até um blog e que divido meu dia a dia na profissão com várias pessoas. As coisas às vezes podem mudar tão rápido, né? Ter escrito sobre o meu primeiro programa me fez me emocionar muito, pois eu ainda estou no começo. Muitas coisas mudaram desde então e eu ainda tenho aprendido cada coisa. Sabe aquele frio na barriga que descrevi ali em cima? Eu ainda o sinto, pois ainda estou fazendo os meus primeiros programas. Vejo que é uma dádiva poder começar em algo que faz sentido para nós e quero lembrar do meu começo assim: lembrando do frio na barriga, da descoberta, do “será?”. Nem conto para vocês que no meu segundo programa, o cliente esteve comigo por três horas e transamos muito kkkkkkkk. A vida é louca.


